O que é ser endividado

O endividado

A palavra endividado tem um significado forte e  ninguém gosta de a ver associada a si próprio.

Com isto as famílias tendem a esconder os seus problemas financeiros de modo a não serem discriminados pela sociedade que muitas vezes compara um endividado a um caloteiro como se andasse a burlar as pessoas.

Naturalmente que uma pessoa endividada nada tem nada a ver com um caloteiro e quem faz esta comparação só demonstra que está bastante mal informado sobre este assunto.

Existe discriminação?

Infelizmente e falando por aquilo que ao longo dos anos assisti efectivamente há alguma discriminação tanto no círculo profissional como pessoal.

Claro que cada caso é diferente e é uma matéria muito abrangente em que envolve vários factores mas existem, por exemplo, empresas que não gostam de ter os seus empregados com incumprimento bancário porque por norma passado algum tempo vêm as penhoras o que dá algum trabalho aos recursos humanos de uma empresa, nada de mais, mas só por isto algumas não gostam.

A nível pessoal sempre existiu, basta para isso verificarmos o feedback que muitos fóruns e sites de finanças pessoais ou de endividamento têm quando alguém expõe a sua situação de sobre endividamento.

Grande maioria começa imediatamente a criticar sem provavelmente ter lido metade do que estava escrito, as críticas baseiam-se logo com excessos, nomeadamente gastos com viagens, carros fora do orçamento familiar, uma vida de luxo e descontrolada.

Mas será mesmo assim ?

Claro que não! O Endividado já acompanhou vários processos de endividamento que independentemente da via mais recomendada para solucionar o problema, verificou-se que as maiores causas são devido a:

  • desemprego
  • divórcio
  • grave deterioração dos rendimentos
  • doença prolongada

Como vê é errado culpabilizar logo à partida uma pessoa endividada ou sobre endividada pelos problemas financeiros que atravessa, com isto não queremos dizer que não existem casos de excesso, mas não estão no topo da lista das principais razões.

Mas será que não estamos todos um pouco endividados?

Se reflectir um pouco, estamos todos de certa forma um pouco endividados. Para isto basta ter uma dívida perante alguém e até o dicionário concorda, vejamos:

endividar
(en- + dívida + -ar)

v. tr.

1. Obrigar a contrair dívidas; empenhar; obrigar a reconhecimento; penhorar.

v. pron.

2. Encher-se de dívidas; contrair obrigações (por favores recebidos).

Claro que isto é um pouco subjectivo mas na realidade ter uma obrigação bancária, como por exemplo o seu crédito habitação a ficar uma pessoa endividada o caminho é mais curto do que se julga.

De uma posição fiável para uma de risco, basta que a sua entidade patronal comece a efectuar os pagamentos fora de prazo ou mais grave ainda, que tenham de o despedir e consequentemente, se não tiver seguro ou algumas poupanças irá entrar em incumprimento bancário porque não terá dinheiro para cumprir com a prestação.

É bem mais fácil criticar quem se endividou do que imaginar e considerar que praticamente ninguém está livre disso.

Posso garantir por processos que acompanhámos ao longo dos anos em que as famílias tiveram que pedir inclusive a insolvência, eram pessoas com rendimentos acima da média e cargos importantes e a situação económica mudou do dia para a noite porque os rendimentos do agregado familiar passaram para metade o que em algumas famílias pode significar uma catástrofe.

Um caso real sobre discriminação

Um exemplo que especialmente nos sensibilizou foi uma senhora que, devido ao desemprego, estava a enfrentar uma grave crise financeira onde mesmo antes estando empregada já era difícil conseguir cumprir com todas as obrigações bancárias porque estava divorciada há dois anos mas, mesmo assim, esforçou-se imenso para cumprir com tudo até o dia em que a patroa a despediu com o intuito de reduzir despesas na empresa.

Desempregada há mais de 4 meses esta senhora conseguiu um emprego numa ourivesaria nas redondezas de Lisboa e a entrevista estava a correr lindamente e quase a chegar ao  final ficou acordado o dia em que a Maria (vamos chamar-lhe assim, nome fictício) começava a trabalhar assim como ultimar os últimos pormenores.

Mas antes de ir embora Maria decidiu contar ao futuro patrão que estava a enfrentar algumas dificuldades económicas de modo a preparar o patrão para, caso surgisse alguma penhora de ordenado, porque andava a ser ameaçada pelos credores para tal, achou que devia ser sincera de modo a que a entidade patronal não fosse apanhada de surpresa e causar alguma má impressão e de boa fé disse que provavelmente o seu ordenado  viria a ser penhorado.

O resultado foi que a Maria ficou sem o lugar, porque após alguns minutos de ter saído da ourivesaria com tudo acordado o patrão pediu para uma funcionária telefonar à Maria a dizer que afinal o cargo já não estava disponível com a desculpa que houve um erro de comunicação entre a entidade patronal.

Será que a Maria fez bem em contar ?

A entidade patronal ao receber uma acção de penhora de vencimento não tem de fazer mais nada do que o que está previsto na lei, que é enviar o dinheiro da percentagem penhorada ao solicitador assim como a fotocópia (caso seja pedida) da transferência do vencimento ao funcionário que serve como prova do valor que está a auferir mensalmente.

Portanto, a nossa opinião, é que um empregado não tem nada que contar à entidade patronal. Se vier a acontecer a penhora na altura que isso acontecer dá uma explicação se achar necessário, caso contrário não esteja a contar algo que não sabe se realmente irá acontecer porque como pode ver pode ser prejudicial para si.

Não tem que ter vergonha de estar a enfrentar problemas bancários, e se no seu trabalho os seus patrões recebam uma execução de penhora em seu nome eles não têm que o confrontar com nada, nem você tem que ficar com vergonha até porque o dinheiro que irá ser enviado para o solicitador é seu e não do seu patrão.

Factor psicológico e a família

Uma família endividada ao longo do tempo se não optar por uma das soluções (desde consolidar créditos, renegociação ou reestruturação, plano de pagamento ou em último caso a insolvência) que existem começa a sentir com alguma frequência a pressão dos credores que como técnica de persuasão telefonam diariamente com ameaças de penhoras utilizando por vezes um tom e discurso menos próprio.

Como é normal se não optar por uma solução cada vez irá piorar mais e o seu estado emocional não será dos melhores tendo reflexo na sua vida profissional e pessoal.

Um dos conselhos que damos sempre às famílias endividadas é que não demorem a avançar para a solução dos seus problemas independentemente de terem que fazer algum esforço em prol disso como acontece, por exemplo, na exoneração do passivo em que os bens são entregues ao administrador da insolvência para serem vendidos mas ao menos passado cinco anos estão livre de dívidas e os credores não o podem contactar mais tal como refere o código do CIRE (código de insolvência e recuperação de empresas).

Se psicologicamente a família se deixar abater e ficar apática em inverter a situação podem surgir casos graves de saúde como depressões e mau estar entre casais das mais diversas formas podendo até comprometer a educação dos filhos e bom ambiente familiar.

A única forma de ultrapassar isto é não se deixar afectar em demasia com a situação ao ponto de não conseguir viver e arregaçar as mangas e consultar especialistas para saber o que pode fazer.

Acredite que existe solução, não deixe os meses ou até anos passarem na esperança de algum milagre ou ir em cantigas de anúncios fraudulentos porque só está a prejudicar-se a si próprio e a aumentar a dívida por causa dos juros.

Mesmo com processos de execução activos existe solução!

Conclusão

Como deu para perceber no Endividado não somos a favor da crítica sem fundamento nem a favor da discriminação porque para ser uma pessoa endividada basta estar vivo e ter algum azar.

Sabemos que muitas vezes as pessoas chegam ao limite também por alguma quota parte dos credores que mesmo após ser provado a insuficiência de rendimentos não permitem uma renegociação de créditos de modo a ser possível a recuperação financeira.

Acreditamos que se existisse mais boa vontade por vezes da parte dos credores os processos podiam seguir outras vias que não o tribunal.

Em relação à sociedade em geral é tempo de repensar os valores e ter a consciência que nada é garantido nesta vida.

Não vale a pena especular se A ou B está assim por isto ou aquilo, quando o que realmente interessa para o bem geral de todos é que cada vez menos exista famílias a passar dificuldades para o nosso País tomar outro rumo.

É preciso mudar mentalidades e acabar com a discriminação.

E você , que opinião tem sobre isto ?

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